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quarta-feira, 20 de março de 2013

Tudo Reclama






Dizem os entendidos que quem reclama pode não ter razão, mas tem sempre um motivo. O ditado popular também nos ensina que "em casa onde não há pão toda gente ralha e todos (ou ninguém) tem razão."

O estado do nosso país ou melhor ao estado em que o nosso país chegou é a causa do nosso descontentamento. Nas conversas de café, nos desabafos na manicura, nas cronicas do jornal, nas cantinas das faculdades, nas salas dos professores, nas grandes, médias ou pequenas manifestações, todos sem excepção, estão contra o rumo que as coisas levam e todos tentam gritar o mais alto possível, para chamarem atenção para o seu caso ou da sua situação.
Ricos, remediados, pobres, indígenas, novos, velhos, empregados, patrões, reformados, aposentados, estudantes, militares, policias, funcionários públicos, clero e imagine-se até políticos, partilham transportes e palavras de ordem para irem protestar para as manifestações.

E afinal o que é que a malta quer?
Obviamente, mandar o Governo todo (com o Gaspar à frente), mais o Presidente da Republica, a Troika e mais uns filhas da mãe (ainda a definir) para bem longe de Portugal, se possível para o Irão que de momento estão a precisar lá de pessoal para servir de alvo.

A coisa tornou-se tão radical, que em desespero de causa e à falta de ovos ou tomates (escassos e necessários para alimentação) cada vez que aparece um governante e uma câmara de televisão canta-se o "Grândola Vila Morena".

Eu próprio já apanhei a onda da contestação, participei numa manifestação e já decorei a letra do Grândola Vila Morena. Só tenho pena de não ter participado naquela manifestação contra a austeridade que acabou em frente à Assembleia com algumas beldades a mostrarem e empunharem os seios.

Sinceramente até agora tudo bem, como o meu filho diz: estou a curtir bué.
O povo anda unido e os gajos do governo e da troika teimosos que nem burros lá se vão aguentando à bronca.

Porque ou eu muito me engano ou o que vem a seguir não vai ser nada de melhor.
Se o governo resolve abalar (se não for corrido antes) e a troika bater asas ficamos nós, sós e sem ninguém para podermos insultar e embirrar.
.
Não sei como é que nos vamos entender.
Eu por exemplo que trabalho por conta de outrem e que com actual carga fiscal fico sem mais de metade do meu rendimento, vou ter que me entender com o meu vizinho que se reformou do serviço militar com 52 anos, que anda fulo por lhe estarem a cortar na reforma e nas regalias que tinha;
Ou com o meu amigo que anda passado por querem que a mulher que é professora e anda algum tempo a bater mal da cabeça, vá trabalhar (não lhe querem prolongar a baixa médica);
Ou com a minha tia Alzira que nunca descontou um chavo e que se queixa que a reforma que recebe não chega para os remédios;
Ou com o meu patrão que diz que aquilo que recebo era para eu produzir o dobro e que tenho muitos direitos e poucos deveres;
Ou com o meu sobrinho estudante universitário que reivindica um ensino gratuito (ele não o diz mas sei que ele acha que devia ser pago por cada presença nas aulas);
Ou com a minha prima que é advogada e acha que eu sou um privilegiado, tenho 14 vencimentos num ano enquanto ela tem meses que não ganha para a renda do escritório;
Ou com dono do café da rua que se queixa que anda a trabalhar para o estado, tantos são os impostos e taxas que tem que pagar;
Ou com o presidente da minha junta de Freguesia que só pensa em jardinar e comprar bancos para os velhotes estarem na coscuvilhice;
Ou com a namorada do meu filho que é totalmente alucinada e acha injusto, ridículo e mais não sei o quê, o valor que a mãe recebe de uma pensão por morte do segundo marido (ela viúva por volta dos 40 anos casou-se em segundas núpcias com um velhote 30 anos mais velho, aparentemente por amor);
Ou com o langão do meu amigo que se licenciou à 8 anos em jornalismo e não consegue arranjar um trabalho condizente com a sua formação;
Ou com o meu avô que insiste em reclamar do facto do viagra não ser com participado pelo SNS.

Ou seja a coisa pode ficar preta e não vai ser fácil de resolver. Tal como o algodão não engana, os números não mentem. Actualmente o povo está unido mas só no descontentamento com o Gaspar e Companhia Lda.

Uma parte do povo anda descontente porque já não aguenta o peso da carga fiscal que o estado impõe  e a maior parte do povo anda descontente porque a torneira do estado deixou de correr e só pinga. Ou seja as reivindicações de uns exigem o sacrifício dos outros e vice-versa.
A ver vamos.



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