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sábado, 23 de março de 2013

Os Eleitos



Serve a presente para informar os menos atentos que já foi dado o sinal de partida para a dança da cadeira do poder do nosso concelho. O vencedor irá sentar-se no cadeirão da câmara municipal da Mealhada na sede do concelho (para os mais distraídos, trata-se daquele grande edifico que fica do lado poente do jardim municipal).
Nunca lá estive, mas quem já teve essa honraria diz que o gabinete não é grande coisa. Aparentemente a última remodelação terá ocorrido antes da implementação da república e por isso, não fica lá bem qualquer presidente ou seja não podem ser muito modernos porque destoam com o mobiliário, além de ser uma carga de trabalhos arranjar gravatas que condigam com os cortinados.

O articulado do contrato estipula que o eleito será o inquilino do palacete durante um período de aproximadamente 4 anos, renováveis por mais 2 períodos, caso não haja renuncia de uma das partes.
O ordenado embora não seja nada de por ai além, não é mau de todo para os dias que correm, acresce um telemóvel com um plafom generoso, cartão de credito e viatura com ou sem chofer (à escolha). ÀH muito importante, também tem direito a uma secretaria para atender os telefonemas dos amigos de ocasião e fazer a maior parte do trabalho chato. O horário também não é mau, embora tenha que comparecer numas reuniões meio chatas, como não tem que picar o ponto, pode-se baldar de vez em quando, que ninguém dá por falta.

No meu ponto de vista o tacho nem é mau, mas acarreta alguns riscos, como levar uns bofardos de alguém descontente com uma expropriação ou com o indeferimento a um pedido de construção de uma pocilga (há gente para tudo).

Os dois maiores conclaves partidários já decidiram e por isso já existem dois candidatos para disputar o cadeirão. Penso que ainda mais conclaves irão reunir, mas seguramente será de um dos dois escalados o eleito.
O ato eleitoral deverá ocorrer no mês de Outubro pelo que posso concluir que os dois candidatos serão corredores de fundo, daqueles que não tem grande estofo para grandes sprintes finais.

Pelo partido Socialista temos como candidato o Sr. Dr. Rui Marqueiro, um repetente que quer retomar o poleiro que abandonou para o atual ocupante do lugar.
Utilizando a gíria, diria que se trata de um animal político. Já exerceu o cargo, cansou-se e foi arejar para Assembleia da Republica, por onde andou à espera de algo melhor e na falta de uma secretaria de estado, arranjaram-lhe um lugar num concelho de Administração. Enfim um gajo calejado e provavelmente com alguns conhecimentos no Terreiro do Paço e no Largo do Rato.
Homem casado e sem filhos por isso com muito tempo livre.
Também me parece, repito, parece que com a alteração da lei das reformas, que obriga um gajo a dar à peganha até aos 65 anos, terá pesado na sua vontade (a vida não está fácil para ninguém).

E se o PS aposta num político de carreira, o Partido Social Democrata aposta em Gonçalo Louzada, um estreante oriundo daquilo que designam de sociedade civil. Rapaz para a casa dos 40 e tais anos, pouco visto e por isso para alguns desconhecido, tenta impressionar com o seu curriculum profissional e um bom desempenho nas atividades associativa e desportiva. Com origens em famílias tradicionais com pergaminhos no concelho, é casado e com filhos suficientes para abrir uma creche. No que diz respeito à política é apresentado como independente, embora possa ter recebido alguns genes do seu avô que ocupou o gabinete em disputa antes do 25 de Abril e que chegou a Governador Civil.

Para me decidir ainda falta saber que musica è que cada um vai tocar pelo que para já o meu voto está em branco.

No entanto já anda por ai muita gentinha numa azáfama, como é o caso do meu primo Zé Lérias. O meu primo, para quem não o conhece, é o gajo mais esclarecido e conhecedor da política do concelho e arredores. Trata por tu praticamente todos os eleitos para as assembleias de freguesia e assembleia municipal. Movimenta-se muito bem nos meandros do poder concelhio e como não tem grande jeito para fonte de informação, encarrega-se de ser ele próprio um meio de comunicação sem licença. Que o digam os jornais da terra, devido à sua concorrência desleal, um já fechou e o outro teve que ser alvo de uma OPA.
Segundo ele a coisa até pode a vir a ser renhida, mas não tem duvidas que o candidato do PS é o mais bem posicionado. Parece basear-se na teoria que o mister Mário Wilson tinha nos gloriosos tempos do SLB, de que qualquer treinador no Benfica arriscava-se a ser campeão (velhos e bons tempos).

Para o meu primo qualquer candidato do PS tem hipóteses de ganhar e dá como prova as eleições para a camara municipal, de há uns anos largos, que tinha como candidatos pelo PS o Foto Rei da Mealhada que ganhou folgadamente ao todo poderoso e conhecido Cesar Carvalheira do PSD.
Só a meio do mandato é que a maior parte da população verificou que se tratava do Dr. Rui Marqueiro e não o Foto Rei, mas ninguém ficou chateado porque se era do PS era FIXE.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Imagem





No final do ano passado fui recambiado pela chefia para uma feira internacional em Amesterdão para assistir apresentação de uma nova máquina (coisa tipo robot informático) de um nosso fornecedor alemão.

Ossos do ofício.

Não me importei, sou apreciador da cerveja alemã e também das empregadas dos bares alemães.

Atenção só bebo a cerveja e aprecio a vista.

A deslocação impunha a minha presença no aeroporto às 6:00 horas. Como resido na zona centro/norte, tive que ir pernoitar num hotel da capital da nação. Sou um animal de hábitos e rotinas constantes, comer ou dormir fora do meu meio ambiente transtorna-me. Sou um tipo organizado, gosto de ter tudo controlado e estas alterações tornam-me vulnerável. Era a primeira vez que ficava naquele hotel e não saber o rumo exacto para o aeroporto, foi motivo suficiente para ter o sono interrompido de 5 em 5 minutos.

Acordei com o som histérico do meu despertador, acompanhado do toque do telefone accionado pelo despertador automático do hotel, programado para as 5:00 horas. Duche rápido, lavagem da dentaduça, um vapor de água de colónia e pronto para zarpar. A barba feita na véspera tal como a farpela para vestir já preparada antes de me deitar, contribuíram para estar antes da hora prevista no aeroporto, com tempo para comer qualquer coisa e tomar um café triplo. (O que paguei dava para irradiar a fome no Gabão, mas não interessa para o caso).

Ultrapassado o chek-in e a barreira de segurança, onde fui revistado e apalpado por um sósia do Rambo, encaminhei-me para a zona do embarque, com o propósito de encontrar um local calmo, comodo para relaxar e pôr o cérebro a sintonizar uma frequência sem ruído de fundo.

Penso que todos já passaram por algo parecido e por isso conhecem o mal-estar em que ficamos, quando mal dormidos, estamos em locais estranhos, com a boca constantemente abrir porque o cérebro precisa de muito oxigénio para arejar e manter-nos minimamente acordados. Nos outros não sei, mas eu fico como um zombie, muito mal disposto e com a sensação que estou todo amarrotado.

E é neste estado de off-line que sou acordado pelo meu décimo sétimo sentido, como se tivesse sido atingido por uma descarga de corrente eléctrica. À minha frente aterra um mulherão (como diz um amigo brasileiro: bota mulherão nisso) daqueles de parar o tráfego aéreo. Caracterizando a espécie e utilizando a terminologia aeronáutica, diria que se tratava de um Boeing 747. Via-se que já tinha algumas horas de voo, mas continuava a oferecer óptimas, diria mesmo excepcionais, condições para um voo de longo curso, tipo intercontinental.
A coisa era boa vista de qualquer lado e estava imaculadamente apresentável, tanto no vestuário, como nos acessórios, maquiagem e cabelo. Tinha tudo no sítio e estava tudo no sítio, nem um único cabelo desalinhado. Tinha uma cara que aparentava ter sido encerada e puxada ao lustre para ai umas 5 vezes. Só após alguns minutos fiquei convencido que se tratava de uma espécie humana e não uma boneca de cera. Só uma super produção da playboy conseguiria produzir uma coisa assim (mas obviamente sem roupa).
Tomem nota que com isto seriam +/- 6:30 horas, e se eu para estar com a minha elegante apresentação tinha saído da cama às 5:00 horas aquela bela obra d´arte não devia ir à cama à 3 noites. Aquilo tinha carradas de mão-de-obra.

Uma coisa do outro mundo e o que ainda me inquietava mais era o facto de embora imaculada, continuamente retirava da carteira um estojo todo artilhado de ferramenta maquilhadora e com ajuda de um pequeno espelho “dava mais uma de mão” na cara e arredores.

O meu cérebro accionou um sistema idêntico ao que os caças de guerra tem para fixar os alvos (só que sem infravermelhos), os meus olhos deixaram de pestanejar e instintivamente comecei a seguir o meu alvo sempre com o dedo posicionado no gatilho do míssil.

Não sei se havia mais miras apontadas ao alvo, o que sei é que na entrada para o avião sofri umas ultrapassagens pela direita e pela esquerda e deixe de avistar o meu alvo. Já dentro do avião devia andar com ar de perdido (ou de atrasado) quando uma simpática hospedeira me tira o bilhete da mão para de seguida apontar o meu lugar. Sempre de periscópio a rodar sem conseguir detectar a minha presa, encaminho-me para o meu lugar e “voilá” sento-me ao lado da beldade. Ela junto à janela e eu junto ao corredor, separados por um lugar vazio e que eu rezava para que não fosse ocupado. As portas fecham-se, o comandante informa que vamos arrancar para chegar a horas, seguem-se as repetitivas instruções do que fazer em caso de acidente (isto se não morrermos antes) e o lugar que nos separa mantém-se vago. Vitória, vitória tocavam os meus sinos dentro da minha cabeça.

E a história devia ficar por aqui e o final imaginado por cada um, mas sempre com um final feliz ou como muitos já estão a imaginar, escaldante. Mas infelizmente o guião da minha vida não serve para fazer nenhuma novela. 

Já o avião voava em cima das nuvens em velocidade cruzeiro e eu germinava no meu cérebro, que estava meio anestesiado e hipnotizado, um esquema para estabelecer um contacto verbal, porque o contacto visual já tinha esgotado a capacidade da minha placa gráfica, quando ouço pela primeira vez a voz da protagonista desta minha história. Interpela a hospedeira que ia a passar no corredor por causa de um perfume que estava à venda na revista da companhia área.

Meus amigos, se naquela altura o avião fosse a pique virado ao chão, toda a gritaria que pudesse ser gerada pelos passageiros, seria mais suave do que aquela voz. Aqueles lábios bué de sensuais, implantados naquela cara esbelta, deixavam sair um som horrível em todos os sentidos. Ela falava fanhoso, com prenuncia vincada do norte, acompanhados de gestos e tiques faciais à José Castelo Branco. Não demorei aperceber-me que a cabeça dela não tinha cérebro (quanto muito tinha a placenta) e por isso era desprovida de qualquer racionalidade. Resumindo para os leigos: não dava uma para a caixa.

Uma coisa horrível e medonha.

A única utilidade que lhe passei a ver era a de misse da claque do FC Porto ou a de objecto de estudo para a especialidade médica de otorrinolaringologista.

Claro está que comecei a temer pela minha saúde mental, ainda por cima a circular a mais de 8 mil metros de altura. Depois de a ouvir mais ou menos 10 minutos a tentar-me explicar a comoção que sentia por ter deixado num hotel para animais o seu inseparável amigo canino, (que o nome não consigo traduzir em palavras), comecei a sentir-me zonzo e agoniado. Desculpei-me com a sonolência que um anti-histamínico me estava a provocar e ferrei o galho até Amesterdão. Quando o avião parou e as portas se abriram levantei-me para a madame passar, sentei-me novamente e esperei 10 minutos para em paz tirar as devidas ilações.

O que é certo, é que o ocorrido serviu-me de lição para o meu dia-a-dia, tornei-me mais séptico e desconfiado. Deixei de dar importância às embalagens e valorizo mais os conteúdos. Quanto ao mulherio faço como os negociantes de gado, abro-lhes a boca para ver se tem alguma coisa dentro da cabeça e dou-lhes uma palmada forte na carroçaria para ver se o chassi é seguro.

Desconforto




Uma das minhas fobias é a de falar em público.

Eu sei que não sou o único, que muitos se queixam do mesmo, mas sinceramente, estou-me borrifando para os problemas dos outros.
Sempre que a situação ocorre por mais que me prepare, treine e faça psicanálise,  mal chegue ao palanque entro em paranoia. As ideias que saltitavam alegremente no meu cérebro fogem e escondem-se, a minha garganta entope, a minha boca seca e tremo que nem uma vara verde cheio de calor.

Um autêntico pavor.

Não tenho outro remédio que arranjar mil e uma maneiras de fugir à situação. Quando comecei alinhar o meu percurso profissional pus logo de parte várias profissões. Ser padre, político, professor, juiz e afins deixaram de ser opção.

Mesmo assim e por muito que evite, por vezes não tenho hipótese de fuga, como foi hoje o caso.
O meu chefe, por estar ausente, incumbiu-me de ministrar uma mini palestra sobre segurança rodoviária a alunos de uma escola primária (acho que agora designam a coisa de 1º ciclo), no âmbito de uma campanha de prevenção que a empresa promove conjuntamente com a E.P. (Estradas de Portugal) junto dos mais jovens.

Depois de me inteirar do pretendido fiquei menos preocupado. A coisa parecia ser simples e o publico nada complicado. Basicamente era passar um filme de banda desenhada que tinha um herói que explicava aos miúdos os comportamentos a ter na rua, nas varias condições (como peão, como circular de bicicleta, como se comportar dentro dos meios de transportes, etc.) e depois responder às perguntas dos mais curiosos.

Coisa fácil, pensei eu.

De manha lá estava eu à espera da garotada, meio ensonado (de manhã funciono muito mal) e eis que eles chegam com as baterias todas carregadas, mais pareciam movidos a corrente alternada. Instalam-se sentados no chão e trazem a confusão com eles.
40 almas de palmo e meio, enfiados numa sala com pouco mais de 30 metros quadrados. Mais parecia um matadouro em dia de matança.
Berro daqui, chamadas de atenção das professoras dali e consigo sossegar o bando com a passagem do filme.

Primeira parte 5 estrelas.

Findo o filme, a luz acende-se e lá estou eu de frente para 80 olhos vidrados e narizes em riste apontados à minha personagem. Os miúdos como tem um gene felino cheiraram o meu medo e foi num ápice que os sintomas da minha fobia se começaram a sentir.
Pior fiquei quando verifico que estou sozinho, as professoras aproveitaram o filme para irem descansar os neurónios (aturar cachopos não é fácil).
Dali para frente foi sempre a descer.
Quando perguntei se alguém tinha alguma dúvida sobre o filme, obtive a resposta à sensação de estar à frente de um poletão de fuzilamento.
Seguiu-se uma rajada de G3 de perguntas parvas, que nada tinham a ver com a matéria dada.
Quem era o herói da história? Porque é que eu tinha uma voz tão esquisita? Quantas namoradas eu tinha? Quantos beijos na boca já tinha dado? Quantos filhos tinha feito? (Sim. Não quantos filhos tinha, mas quantos tinha feito) e por ai acima. As perguntas eram invariavelmente intervaladas por uma miúda que só dizia que tinha um pai policia (ainda estou para perceber o que ela queria dizer com aquela informação).

Enquanto digeria tanta curiosidade parva, sinto o meu portátil a gemer de dor, tantos eram os deditos que procuravam uma tecla disponível. Ao fundo da sala dois enegrumes ligavam e desligavam a máquina de café que à falta de água borrifava vapor e assobiava.
Ai percebo que o grupo estava divido em dois tipos: os curiosos parvos falantes e os curiosos parvos mudos.

Enfim, instalou-se um caos que me obrigou a uma retirada estratégica, depois de recolher os meus bens. Em passos largos passei pelas professoras que repousavam nos sofás do Hall e informei-as que tinha concluído a minha tarefa, o que fê-las levantarem-se num ápice e tomarem a postura de um bombeiro pronto a combater um incêndio. 

Já na rua, ainda atordoado, acendi um cigarro e comecei a tentar nivelar a minha auto estima.

Embora distante do local do sinistro, ainda ouvia o alvoroço e o esforço inglório das professoras.
Passados uns 5 longos minutos, as feras foram dominadas e começaram a sair em fila indiana de mãos dadas como cordeirinhos e os que olhavam para mim tinham a expressão "missão cumprida" estampada na testa.


Estou em casa a ler um livro que tem como titulo: Boas desculpas para não ir trabalhar amanhã.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Tudo Reclama






Dizem os entendidos que quem reclama pode não ter razão, mas tem sempre um motivo. O ditado popular também nos ensina que "em casa onde não há pão toda gente ralha e todos (ou ninguém) tem razão."

O estado do nosso país ou melhor ao estado em que o nosso país chegou é a causa do nosso descontentamento. Nas conversas de café, nos desabafos na manicura, nas cronicas do jornal, nas cantinas das faculdades, nas salas dos professores, nas grandes, médias ou pequenas manifestações, todos sem excepção, estão contra o rumo que as coisas levam e todos tentam gritar o mais alto possível, para chamarem atenção para o seu caso ou da sua situação.
Ricos, remediados, pobres, indígenas, novos, velhos, empregados, patrões, reformados, aposentados, estudantes, militares, policias, funcionários públicos, clero e imagine-se até políticos, partilham transportes e palavras de ordem para irem protestar para as manifestações.

E afinal o que é que a malta quer?
Obviamente, mandar o Governo todo (com o Gaspar à frente), mais o Presidente da Republica, a Troika e mais uns filhas da mãe (ainda a definir) para bem longe de Portugal, se possível para o Irão que de momento estão a precisar lá de pessoal para servir de alvo.

A coisa tornou-se tão radical, que em desespero de causa e à falta de ovos ou tomates (escassos e necessários para alimentação) cada vez que aparece um governante e uma câmara de televisão canta-se o "Grândola Vila Morena".

Eu próprio já apanhei a onda da contestação, participei numa manifestação e já decorei a letra do Grândola Vila Morena. Só tenho pena de não ter participado naquela manifestação contra a austeridade que acabou em frente à Assembleia com algumas beldades a mostrarem e empunharem os seios.

Sinceramente até agora tudo bem, como o meu filho diz: estou a curtir bué.
O povo anda unido e os gajos do governo e da troika teimosos que nem burros lá se vão aguentando à bronca.

Porque ou eu muito me engano ou o que vem a seguir não vai ser nada de melhor.
Se o governo resolve abalar (se não for corrido antes) e a troika bater asas ficamos nós, sós e sem ninguém para podermos insultar e embirrar.
.
Não sei como é que nos vamos entender.
Eu por exemplo que trabalho por conta de outrem e que com actual carga fiscal fico sem mais de metade do meu rendimento, vou ter que me entender com o meu vizinho que se reformou do serviço militar com 52 anos, que anda fulo por lhe estarem a cortar na reforma e nas regalias que tinha;
Ou com o meu amigo que anda passado por querem que a mulher que é professora e anda algum tempo a bater mal da cabeça, vá trabalhar (não lhe querem prolongar a baixa médica);
Ou com a minha tia Alzira que nunca descontou um chavo e que se queixa que a reforma que recebe não chega para os remédios;
Ou com o meu patrão que diz que aquilo que recebo era para eu produzir o dobro e que tenho muitos direitos e poucos deveres;
Ou com o meu sobrinho estudante universitário que reivindica um ensino gratuito (ele não o diz mas sei que ele acha que devia ser pago por cada presença nas aulas);
Ou com a minha prima que é advogada e acha que eu sou um privilegiado, tenho 14 vencimentos num ano enquanto ela tem meses que não ganha para a renda do escritório;
Ou com dono do café da rua que se queixa que anda a trabalhar para o estado, tantos são os impostos e taxas que tem que pagar;
Ou com o presidente da minha junta de Freguesia que só pensa em jardinar e comprar bancos para os velhotes estarem na coscuvilhice;
Ou com a namorada do meu filho que é totalmente alucinada e acha injusto, ridículo e mais não sei o quê, o valor que a mãe recebe de uma pensão por morte do segundo marido (ela viúva por volta dos 40 anos casou-se em segundas núpcias com um velhote 30 anos mais velho, aparentemente por amor);
Ou com o langão do meu amigo que se licenciou à 8 anos em jornalismo e não consegue arranjar um trabalho condizente com a sua formação;
Ou com o meu avô que insiste em reclamar do facto do viagra não ser com participado pelo SNS.

Ou seja a coisa pode ficar preta e não vai ser fácil de resolver. Tal como o algodão não engana, os números não mentem. Actualmente o povo está unido mas só no descontentamento com o Gaspar e Companhia Lda.

Uma parte do povo anda descontente porque já não aguenta o peso da carga fiscal que o estado impõe  e a maior parte do povo anda descontente porque a torneira do estado deixou de correr e só pinga. Ou seja as reivindicações de uns exigem o sacrifício dos outros e vice-versa.
A ver vamos.



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